Cenas

       Todos nós vivemos grandes experiencias, mas são as pequenas cenas ou histórias do cotidiano que nos ensinam sobre o sentido das coisas, absurdos da vida e sobre a realidade como ela é. Aqui descreverei algumas pequenas historias e cenas que fazem parte de uma história de vida.

A primeira historia é em homenagem ao dia das mulheres.

Hoje as mulheres entram no mundo profissional e social acreditando que sempre foi fácil assim!!! Não sabem como era até 10 anos atras, e olha que ainda falta muito para a igualdade.
Cena.
 No final da tarde, estávamos vendo TV, e como é bom assistir TV a tarde quando se é criança, quando meu irmão subitamente levanta-se e muda o canal. Minha irmã e eu protestamos que queriamos continuar a ver o programa. Minha mãe entra na sala perguntando o que estava acontecendo, apos ouvir as explicações, se vira para nós, meninas, e explica que devemos aceitar, afinal ele é menino e tem prioridade em escolher a programação e "precisa" ver o jogo de futebol. Minha irmã se calou e eu protestei veementemente contra aquela argumentação, mas nada adiantou. Nesse momento percebi o quanto teria que lutar pelo meu espaço e meus direitos no mundo machista. Aos 8 anos de idade aprendi a lição que nortearia minha postura no futuro.


Nascemos só e morremos só, aqueles que passam por nossa vida são apenas visitantes de nossa solidão!

     Nas férias de verão, quando tinha 10 anos, de repente entrou uma menina da mesma idade que eu, que  nunca tinha visto,em minha casa. Minha mãe me informou que a mãe da menina estava doente então minha mãe se ofereceu para cuidar dela naquelas férias. Nesse momento me comunicou que eu deveria distrai-la e leva-la comigo em minhas atividades de férias. Logo pensei: " Eu não me comprometi a cuidar de ninguém!" " Alguém me perguntou se queria assumir esse compromisso?". O pior é que a menina, uma desconhecida, era totalmente diferente de mim, e o pior, na visão de uma criança, ela tinha uma gaveta cheia de doces e balas que comia na minha frente e nunca me oferecia. Inaceitável aos 10 anos!!! Os dias foram passando, eu sempre com minha "sombra", e por mais que tenta-se não conseguia me entrosar com ela. Um dia, cansada de ser obrigada a levar aquela estranha para minha vida, fomos ao clube, lá estavam meus amigos e nos divertíamos  mas a todo momento ela nos interrompia com pedidos e choramingo. Ao que parecia ela estava acostumada a todos atenderem suas vontades sem demora, e esperava que eu fizesse o mesmo. Subitamente senti uma angustia incontrolável  uma vontade de sair correndo, sufocada com toda aquela situação. Avisei meus amigos que ia sair e pedi que eles tomassem conta da menina. Por volta das 11 h sai da piscina, me troquei e fugi, sem ser vista por ela. Andei pelas ruas do bairro, que era novo e onde haviam terrenos cobertos por mato. Me escondi e caminhei por ruas pouco movimentadas para não ser vista. Quando cansei entrei numa obra abandonada ao lado de minha casa. Lá havia uma cobertura e local para descansar. Ouvi quando ligaram para minha casa, do clube, pedindo para que fossem buscar a menina. Ouvi minha mãe reclamando da situação e de como eu abandonei a menina, ouvi o carro saindo e voltando, todos compadecidos pela situação e a conversa continuou por todo o almoço. E no período da tarde tudo ficou calmo e silencioso na casa. Permaneci sentada na obra abandonada, meu cachorro me encontrou e ficou comigo todo o tempo que lá permaneci.
 No final da tarde, por volta das 17h, com fome e cansada decidi voltar para casa. Entrei, me dirigi a cozinha, preparei algo para comer e quando minha mãe apareceu só perguntou como eu pude fazer aquilo com a visita. Aguentei mais um daqueles famosos sermões sobre responsabilidade, consideração, blá, blá, blá. Acabei de comer meu lanche,e fui ver T.V.. No jantar todos me olhavam como uma vilã sem coração. No dia seguinte tudo voltou ao normal.
 Quando estava esperando o sono chegar, feliz com minha aventura e ato de rebeldia, percebi que, em nenhum momento, ninguém da família havia me questionado onde passara o dia! Uma menina de 10 anos saí do clube as 11 h da manhã  e retorna para casa as 17 h  e nenhum membro da família tem a curiosidade de onde ela estava, o que estava fazendo, se estava bem. Nesse momento percebi que nada me ligava aquelas pessoas. Que poderia partir a qualquer momento.

Cena

  Tinha 18 anos, era dia 5 do mês  dia de receber o dinheiro que meu pai me enviava para pagar as despesas, me levantara as 6 h e me preparava para ir para a Faculdade. Estava acabando o primeiro ano da faculdade de medicina numa universidade pública, morava com uma tia.
  Toca o telefone, ouço a voz de meu pai, ele sempre me ligava nesse horario, para verificar se eu estava em casa. Ele me comunica que não poderia mais me enviar o dinheiro porque teria que sustentar minha irmã e meu sobrinho, já meu cunhado saíra de casa e sumira.Desligo o telefone, sento no sofá da sala, penso como conseguirei manter os estudos a partir daquele momento. Minha tia vendo minha expressão, se oferece para me dar um auxilio de meio salario minimo e o restante eu teria que me virar. Chego no plantão que frequentava desde o inicio da faculdade, e ao conversar com a chefe do plantão sobre minha situação ela liga imediatamente para uns colegas e consegue um plantão remunerado para que eu pudesse trabalhar e me manter.
   Desde aquele dia, nunca mais precisei do dinheiro dos outros, apesar de minha tia insistir em me ajudar. Trabalhava em plantões extras para poder comprar livros melhores e ter um pouco mais de tranquilidade. 
    Meu  pai ligava todos os meses, no dia 5, para confirmar que não iria mandar dinheiro, e percebi que ficava incomodado com o fato daquilo não mais me afetar.Mas a partir do momento que não me mantinha mais, aprendi que também não tinha mais o direito de interferir em minha vida. 
   E assim criei o conceito de que só devo satisfações a quem paga minhas contas.

Cena

Dialogo hoje: 

- E ai sua filha passou de ano?

-Sim, graças a Deus passou para a 2a serie!!! Diz a mãe orgulhosa.

- Ah! então ela já sabe ler e escrever????!!!

-Ainda não,mas pelo menos passou né????!!!!

Imaginem quantos analfabetos funcionais teremos em pouco tempo!!!!

Não se faz isso com uma criança! Tirar a sua chance de aprender, viver 

plenamente, é mais cruel, desumano e criminoso que a morte.

Triste pelo futuro dessas crianças e desse país!

Dialogo:

- Não vale a pena brigar por certas coisas.
a outra pessoa diz:
-Então avisa isso para as mulheres, quem sabe param de brigar pelos homens.